domingo, 28 de abril de 2019

29/04 - Abordagem Historico-Cultural (FREITAS e GOES)

FREITAS, Maria Teresa de Assunção. A pesquisa de abordagem histórico cultural: um espaço educativo de constituição de sujeitos. Revista Teias. UERJ. Vol. 10, n.19, 2009, p.1-12.

GOES, Maria Cecilia Rafael de. A abordagem microgenética na matriz histórico-cultural: Uma perspectiva para o estudo da constituição da subjetividade. Caderno cEdes, ano XX, n.50, Abril/00, p.9-25.

Que abordagem complicada!!!!! Não sei se é a novidade, mas a abordagem historico-cultural baseada em Vygotsky e Bakhtin, achei que não tem nada de trivial! Não sei se pela novidade desses personagens na minha vida, pela discussão tão aprofundada de uma palavra unica - "intervenção" - ou se pelos termos elaborados que a microgenética utiliza (Dinâmico-causal, ontogênese, dialógico-discursivo, semiótico-índiciário, associacionismo x elementarismo, microanalítico, naturalista-biologizante, intersubjetivo x intra-subjetivo, temas de enunciação, paradigma indiciário, consições macrossociais, valor heurístico), só sei que me senti espremida ao tentar decifrar e extrair o conhecimento dele.

Algumas considerações sobre os "companheiros" dessa aula:

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Lev Semyonovich Vygotsky, foi um psicólogo, proponente da Psicologia cultural-histórica. Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida.


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O pesquisador, pensador, filósofo e teórico Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975) foi uma das figuras mais importantes para a história e evolução da linguagem humana, e suas pesquisas norteiam até hoje estudos e teorias pelo mundo. Para ele, toda e qualquer análise linguística deveria tratar também de outros fatores, como a relação do emissor com o receptor, o contexto social, histórico, cultural, ideológico e de fala, por exemplo. Segundo ele, se não fosse dessa forma, não haveria compreensão.

FREITAS coordena o grupo LIC (Linguagem Interação e Conhecimento) na Universidade Federal de Juiz de Fora, que tem como fundamento teórico-metodológico a abordagem histórico-cultural. Nesse texto, baseado nos conceitos de descrição e explicação de Vygotsky e Bakhtin, ela aborda a pesquisa quantitativa nas ciências humanas a partir da perspectiva histórico-cultural, considerando-a um espaço educativo onde ocorrem diferentes processos de comunicação. A discussão do grupo, no momento, acontecia em torno do conceito “pesquisa-intervenção”, no entendimento de que esse tipo de pesquisa não apenas descreve uma realidade, mas também explica-a e consequentemente intervêm na realidade. Algumas questões que ela coloca:

1) Qual o significado da palavra intervenção?

2) Em que consiste a intervenção na pesquisa histórico-cultural?

3) Quais os sentidos construídos pelo grupo para este conceito de pesquisa intervenção? 

4) Como essa intervenção se apresenta nas pesquisas realizadas.

São essas perguntas que ela tenta responder nesse texto, começando pelo significado de intervenção no dicionário, que resumidamente apresenta-se como: ato de intervir, interferência, significado considerado por ela contaminado por valores de uma determinada época. No final, ela conclui que é difícil quebrar a tradição da palavra “intervenção” mas que “pesquisa dialógica” representaria um bom direcionamento ...

- Em que consiste a INTERVENÇÃO na pesquisa histórico-cultural?

Vygotsky apud Freitas (2009), afirma-se que o comportamento humano difere qualitativamente do comportamento animal e por isso a pesquisa de abordagem naturalística deve ser evitada. Vygotsky também considera que o homem interfe na natureza, e isso transforma a si mesmo. Além disso, considera necessário que o homem reconstrua a historia de sua origem e desenvolvimento, considerando a descrição (exterior, aparência) e a explicação (interior, sentimentos). Com essas metas, é possível perceber que a pesquisa procura possíveis relações do individual com o social e que o pesquisador provoca alterações nos pesquisados, e isso é a “intervenção” ainda que ele não use essa palavra.

Já Bakhtin apud Freitas (2009) “o objeto das ciências humanas é o ser expressivo e falante”, caracterizando a diferença das ciências extas par as humanas em que aquela contempla o objeto e fala sobre ele mas não com ele. Ou seja, pesquisador e pesquisado interagem enquanto se dá a pesquisa, partindo-se inicialmente a pesquisa da identificação com o outro e permitindo a possibilidade do pesquisador se ressignificar durante o processo e aparecendo tanto quanto o pesquisado em seu texto final. Ou seja, um encontro dialógico e transformador entre dois sujeitos.

Apesar de Vygotsky enfatizar a descrição completada pela explicação e Bakhtin afirmar que o homem não pode ser explicado e sim compreendido, o elemento comum entre ambos é a compreensão em profundidade, a partir de diálogos que gerem transformação.


Já na proposta etnográfica de GOES que deriva da antropologia cultural e implica na descrição de cenários e das regras de funcionamento deum grupo cultural, está a microetnografia que busca um interesse crescente no “como acontece” e não “o que acontece”. No entanto, esse texto aborda a microgenética, uma metodologia que examina o funcionamento dialógico-discursivo, destacando ainda a vinculação com as proposições do paradigma semiótico-indiciário. Esse método ainda procura detalhes no relato minuncioso de acontecimentos e o recorte de episódios interativos, associado normalmenteao uso de videogravação e a transcrição. O objetivo do texto além de definir esse tipo de pesquisa é ressaltar o estudo de questões referentes à subjetivação em relação ao funcionamento intersubjetivo. 

A microetnografia possui similaridade na busca por interações e cenários socioculturais assim como o estabelecimento de relações entre microeventos e condições macrossociais. A diferença fica para a parte “genética” que utiliza as proposições de Vygotsky sobre o funcionamento humano e a análise minunciosa do processo e que por sua vez baseou-se no método clinico de Piaget ao buscar nas sessões ou entrevistas um exame critico e minuncioso do que era falado. A diferença entre os dois está no fato de Vygotsky entender que os processos humanos tem relação com o próximo e com a cultura, ao contrario de Piaget que buscava respostas espontâneas de crianças, não influenciadas por adultos (como se isso fosse possível!).Piaget também usou analise j

- As contribuições metodológicas de Vygotsky e a análise microgenética

“O método é ao mesmo tempo , pré-requisito e produto, instrumento e o resultado do estudo” segundo Vygotsky apud Goes (2000), baseados nos conceitos de que a constituição do funcionamento humano é socialmente medida e que a gênese das funções psicológicas está nas relações sociais. 

As obras de Vygotsky sempre discutem a especificidade das declarações vinculada à uma visão sociogenética, histórico-cultural e semiótica do ser humano, entendendo que privilegiar a história não é apenas estudar o passado, mas sim as transformações que englobam o presente além da preposição de uma visão ampla, ainda que minunciosa, da investigação histórico-cultural. 

- Contribuições atuais para a discussão da análise microgenética

De acordo com Wetsch apud Goes (2000) baseado em Vygotsky define a analise microgenetica como o acompanhamento minuncioso e detalhe das ações dos sujeitos e relações interpessoais dentro de um espaço de tempo, consideração a transição do intersubjetivo para o intra-subjetivo. (pistas de internalização). O autor ainda considera um exemplo de díade máe-criança, suas falas e os indicadores de internalização de ações pela criança, considerando episódios curtos. Goes considera que esse tipo de análise não é “micro” por se referir à um curto tempo e sim por ser orientada nas minucias indiciai, apesar de Welsch ser um seguidor de Vygotsky na questão semiótica vinculada com os temas de enunciação e da dialogia.

Uma outra vertente dessa metodologia tem sido os processos cognitivos construídos das interações e feito de três (mas me parece 4 pelo texto!) maneiras: 1) cognitivista, 2) interacionista e 3) jogo conversacional e 4) discursiva ou enunciativa.

O texto apresenta dentro da vertente enunciativo-discursivo que inclusive é a ênfase do trabalho devido ao caráter promissor e sua congruência com a pesquisa histórico-cultural um boa revisão bibliográfica citando alguns autores como: Orlandi (1987), Pêcheux (1988), Bakhtin (1986), Smolka (1997), Rojo (1997) todos com análise do discurso. Outros como Carvalho (1997), Rocha (1997), De Carlo (1999 e Goes e Souza (1998) no processo de formação de sujeitos nas relações sociais. Fontana (1996) mostra um estudo de campo examinando detalhadamente o fluxo das enunciações nos dialogo professor-aluno e aluno-aluno (intersubjetivo).

- O paradigma indiciário

Assim como um médico analisa os sintomas na procura de um diagnóstico (semiologia médica), o pesquisador procura indícios, fundamentado na semiótica, como um caçador analisando as pistas de uma presa, sendo Ginzburg (1989) um dos autores mais conhecidos. 

Ginzburg apud Goes (2000) critica o modelo da ciência moderna quanto 1) crença na transparência da realidade, 2) separação entre sujeito e objeto e 3) conhecimento sistemático com regras formais. Ele contrapõe isso à riqueza do conhecimento humano em três aspectos: 1) a valorização do singular, 2) rigor metodológico, porém flexível e 3) não abandono da totalidade, apesar da singularidade.

- As perspectivas enunciativo-discursivo e semiótico-indiciária da microgenese

Baseado em Ginzburg, Goes (2000) destaca três pontos vinculados à análise microgenética: 1) atenção à minucias indiciais, 2) estudo de situações singulares e 3) busca de inter-relação da interpretação indiciária com condições macrossociais, cabendo ao pesquisador decifrar o componente narrativo do negligenciável.


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