O texto de Luz
e Ferreira (2016) é muito atual e discute de maneira qualitativa e
exploratória, baseada em estudo de caso único através de pesquisa documental,
questionário e entrevista semidirigida o processo de trabalho e a subjetivação
de professores de cursos de educação à distância.
O texto em si
apresenta sinais quantitativos e também me parece misturar algumas coisas como
propor solução no desenvolvimento e citar dados na conclusão. Está organizando
em uma introdução, na apresentação do
método e em resultados e discussões, capitulo onde é apresentada a organização
do trabalho, as relações socioprofissionais e a influência das TICs
(Tecnologias de Informação e Comunicação) para então apresentar a conclusão
final.
A pesquisa foi
feita em uma instituição confessional particular com modalidade presente e EaD.
Apurou-se os dados de pesquisa a partir
de 15 participações ora através de questionário, ora através de entrevista ou
ambos. No capitulo de desenvolvimento é apresentado então alguns autores sobre
Ead, intercalando a teoria com as respostas obtidas. Os autores deixam uma
pergunta: “como ficam as relações entre alunos e professores, o diálogo entre
ambos e as discussões que são tão enriquecedores para constituição da
aprendizagem e da formação do aluno?”. Infelizmente, atualmente, existem nortes
para essa resposta mas que de maneira nenhuma sanaram as diferenças e
consequentemenete os problemas existentes.
Gostei muito
da dicotomia que os autores apresentam ao longo do texto e das quais destaco
algumas que ajudam esclarecer esse processo vivido pelos professores de EaD no
uso das TICs.
- A
subjetividade é muito mais uma variável
que uma constante, uma vez que a subjetivação é um movimento em constante
processualização.
- O local onde
o professor trabalha o EaD mistura publico
e privado, social e familiar, trabalho e lazer assim como tempo de trabalho e tempo de lazer..
- O cronograma
dita o ritmo do Ead e não a dificuldade do aluno. É um sistema flexível de horário, mas enrijecido pelo cronograma. Isso também
gera um maior controle das aulas, ao
contrario da liberdade do sistema
presencial.
- Duas
sociedades: a de Foucault e Deleuze. A primeira representando a sociedade da disciplina e a aula presencial ao contrário de Deleuze
que representa a a sociedade do controle
e a aula EaD.
- Nos
relacionamentos professor –aluno também temos contrastes: os laços de amizade no ensino presencial versus a frieza gerada pelo uso da tecnologia no
EaD. O contato visual trocado pelo contato textual ou seja, a verbalização pela escrita.
- Um outro contraste
apresentado é na relação do tempo: enquanto o professor do presencial se
preocupa em administrar um tempo físico,
no EaD o tempo fragmentado deve
gerar produções semelhantes.
- As
expectativas profissionais também se rendem à dicotomia: enquanto o EaD é
considerado uma fonte de prazer e sofrimento simultâneo, dentro da categoria
existe um certo menosprezo por professores que valorizam o Ead sendo considerada essa uma atividade inferior ou
mais desvalorizada.
Das muitas
coisas que se poderia extrair do texto sobre a dialogia entre Ead e presencial,
uma coisa é certa: o professor deixa de ser o detentor do conhecimento e passa a ser mediador e direcionador apenas trazendo como uma das maiores
consequências: a sensação de não pertencimento.
O texto de
Fanfani (2007) por sua vez faz considerações sociológicas sobre a
profissionalização docente e está dividido em duas partes: mudanças sociais do
trabalho docente e as novas condições de trabalho e a questão da
profissionalização. E se por um lado a grande diferença nos dois textos está na
questão do EaD que não aparece nesse segundo texto, os contrastes que aparecem
nas considerações sobre a profissionalização docente tornam ambos os textos convergentes.
Em relação as
mudanças sociais, de acordo com Dubet y Duru-Bellat (2000, p.19 apud Fanfani, 2007, p.336) “existe uma
distância entre a imagem ideal que os docentes tem de sua função e de sua vocação”,
e também “uma ilha de ordem em um oceano de desordem” panorama esse que reflete
uma sociedade exigindo da escola cada vez mais funções e que normalmente não
corresponde à qualidade dos recursos que ela tem. Nesse sentido o texto destaca
três situações: 1) a massificação da escolaridade com a exclusão social (os
problemas sociais tem gerados crises morais que afetam diretamente a
profissionalização docente que sem apoio de profissionais específicos – por
falta de dinheiro – se vê obrigado a assumir outros papeis), 2) as mudanças nas
relações de poder entre as gerações e nas dinâmicas dos grupos familiares (as
mudanças do capitalismo influenciaram diretamente e negativamente nas relações entre as gerações e nas relações
de poder familiar, refletindo diretamente na autoridade pedagógica do professor
e na aquisição deste de novas funções – comportamentais principalmente - que
antes eram responsabilidade da família), 3) as inovações tecnológicas
(considerada pelos docentes como um desafio, porém a maioria tendo uma visão
positiva do uso sem ala de aula apesar de trazer uma sensação de obsoleto para
os que não usam.
Já sobre as
novas condições de trabalho e a questão da profissionalização três tópicos
estão em destaque: 1) a burocracia educativa e a docência: uma
“quase-profissão” (se por um lado a docência deveria ser uma missão com
características de humildade e dedicação, exige-se o profissionalismo de uma
atividade regulada, supervisionada e heterogênea na divisão de níveis escolares
e modalidades possíveis) , 2) o surgimento das organizações pos-burocraticas e
(o autor cita Deleuze como representante de um sistema de dominação concreta em
regras e ordens a serem cumpridas de “corpo e alma” – modo característico de
exigência do modelo capitalista - e que
ainda traz como consequência a exigem de novas habilidade e o pagamento pela
“qualidade” de seu produto; características como ética, confiança e entusiasmo
se tornam parâmetros produtivos e confundem vida profissional com pessoal) 3) a
luta pela definição do conteúdo da profissionalização.
Referências:
FANFANI, Emilio Trenti. Consideraciones sociologicas
sobre profesionalización docente. Educação & Sociedade,
Campinas, vol. 28, n. 99, p. 335-353, maio/ago. 2007. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.
Acesso em 17 de agosto de 2019.
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