segunda-feira, 2 de setembro de 2019

PFP - Contrastes da profissionalização docente


O texto de Luz e Ferreira (2016) é muito atual e discute de maneira qualitativa e exploratória, baseada em estudo de caso único através de pesquisa documental, questionário e entrevista semidirigida o processo de trabalho e a subjetivação de professores de cursos de educação à distância.
O texto em si apresenta sinais quantitativos e também me parece misturar algumas coisas como propor solução no desenvolvimento e citar dados na conclusão. Está organizando em uma introdução,  na apresentação do método e em resultados e discussões, capitulo onde é apresentada a organização do trabalho, as relações socioprofissionais e a influência das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) para então apresentar a conclusão final.
A pesquisa foi feita em uma instituição confessional particular com modalidade presente e EaD. Apurou-se os dados de pesquisa  a partir de 15 participações ora através de questionário, ora através de entrevista ou ambos. No capitulo de desenvolvimento é apresentado então alguns autores sobre Ead, intercalando a teoria com as respostas obtidas. Os autores deixam uma pergunta: “como ficam as relações entre alunos e professores, o diálogo entre ambos e as discussões que são tão enriquecedores para constituição da aprendizagem e da formação do aluno?”. Infelizmente, atualmente, existem nortes para essa resposta mas que de maneira nenhuma sanaram as diferenças e consequentemenete os problemas existentes.
Gostei muito da dicotomia que os autores apresentam ao longo do texto e das quais destaco algumas que ajudam esclarecer esse processo vivido pelos professores de EaD no uso das TICs.
- A subjetividade é muito mais uma variável que uma constante, uma vez que a subjetivação é um movimento em constante processualização.
- O local onde o professor trabalha o EaD mistura publico e privado, social e familiar, trabalho e lazer assim como tempo de trabalho e tempo de lazer..
- O cronograma dita o ritmo do Ead e não a dificuldade do aluno. É um sistema flexível de horário, mas enrijecido pelo cronograma. Isso também gera um maior controle das aulas, ao contrario da liberdade do sistema presencial.
- Duas sociedades: a de Foucault  e Deleuze.  A primeira representando a sociedade da disciplina e a aula presencial ao contrário de Deleuze que representa a a sociedade do controle e a aula EaD.
- Nos relacionamentos professor –aluno também temos contrastes: os laços de amizade no ensino presencial versus a frieza gerada pelo uso da tecnologia no EaD. O contato visual trocado pelo contato textual ou seja, a verbalização pela escrita.
- Um outro contraste apresentado é na relação do tempo: enquanto o professor do presencial se preocupa em administrar um tempo físico, no EaD o tempo fragmentado deve gerar produções semelhantes.
- As expectativas profissionais também se rendem à dicotomia: enquanto o EaD é considerado uma fonte de prazer e sofrimento simultâneo, dentro da categoria existe um certo menosprezo por professores que valorizam o Ead sendo considerada essa uma atividade inferior ou mais desvalorizada.
Das muitas coisas que se poderia extrair do texto sobre a dialogia entre Ead e presencial, uma coisa é certa: o professor deixa de ser o detentor do conhecimento e passa a ser mediador e direcionador apenas trazendo como uma das maiores consequências: a sensação de não pertencimento.
O texto de Fanfani (2007) por sua vez faz considerações sociológicas sobre a profissionalização docente e está dividido em duas partes: mudanças sociais do trabalho docente e as novas condições de trabalho e a questão da profissionalização. E se por um lado a grande diferença nos dois textos está na questão do EaD que não aparece nesse segundo texto, os contrastes que aparecem nas considerações sobre a profissionalização docente tornam  ambos os textos convergentes.
Em relação as mudanças sociais, de acordo com Dubet y Duru-Bellat (2000, p.19 apud Fanfani, 2007, p.336) “existe uma distância entre a imagem ideal que os docentes tem de sua função e de sua vocação”, e também “uma ilha de ordem em um oceano de desordem” panorama esse que reflete uma sociedade exigindo da escola cada vez mais funções e que normalmente não corresponde à qualidade dos recursos que ela tem. Nesse sentido o texto destaca três situações: 1) a massificação da escolaridade com a exclusão social (os problemas sociais tem gerados crises morais que afetam diretamente a profissionalização docente que sem apoio de profissionais específicos – por falta de dinheiro – se vê obrigado a assumir outros papeis), 2) as mudanças nas relações de poder entre as gerações e nas dinâmicas dos grupos familiares (as mudanças do capitalismo influenciaram diretamente e negativamente  nas relações entre as gerações e nas relações de poder familiar, refletindo diretamente na autoridade pedagógica do professor e na aquisição deste de novas funções – comportamentais principalmente - que antes eram responsabilidade da família), 3) as inovações tecnológicas (considerada pelos docentes como um desafio, porém a maioria tendo uma visão positiva do uso sem ala de aula apesar de trazer uma sensação de obsoleto para os que não usam.
Já sobre as novas condições de trabalho e a questão da profissionalização três tópicos estão em destaque: 1) a burocracia educativa e a docência: uma “quase-profissão” (se por um lado a docência deveria ser uma missão com características de humildade e dedicação, exige-se o profissionalismo de uma atividade regulada, supervisionada e heterogênea na divisão de níveis escolares e modalidades possíveis) , 2) o surgimento das organizações pos-burocraticas e (o autor cita Deleuze como representante de um sistema de dominação concreta em regras e ordens a serem cumpridas de “corpo e alma” – modo característico de exigência do modelo capitalista -  e que ainda traz como consequência a exigem de novas habilidade e o pagamento pela “qualidade” de seu produto; características como ética, confiança e entusiasmo se tornam parâmetros produtivos e confundem vida profissional com pessoal) 3) a luta pela definição do conteúdo da profissionalização.


Referências:
FANFANI, Emilio Trenti. Consideraciones sociologicas sobre profesionalización docente. Educação & Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 99, p. 335-353, maio/ago. 2007. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em 17 de agosto de 2019.

LUZ, Maria Antonieta M.; FERREIRA NETO, João Leite. Processos de trabalho e de subjetivação de professores universitários de cursos de educação à distância.  Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 20, Número 2, Maio/Agosto de 2016, p.265-274

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PFP - Conhecimento para-na-da prática